Ouço, sempre que posso, este programa da TSF.
Carlos Vaz Marques entrevista pessoas ..... Talvez seja ridícula esta expressão... ”entrevista pessoas”, uma redundância, mas é isso mesmo.... porque a entrevista é humana, serena.... é quase o encontro de íntimos.
Mesmo sabendo as pessoas num estúdio de rádio...... podemos deixar-nos levar pela imaginação.....
E fico sempre com pena quando acaba... apetece-me mais!
Ontem, em particular, apeteceu-me muito mais.
Chegou a apetecer-me sentar naquela mesa, pedir um chá de jasmim, acender uma chicha (cachimbo árabe) e ficar ali, a conversar com Carlos Vaz Marques e Amina Alaoui..... sentir os odores árabes, relembrando as cores das especiarias, dos mercados, os tecidos das roupas longas, ondulando ao vento quente... até que a voz, na mesquita, proferisse o chamamento para a oração..... aquelas palavras míticas....
Allah u Akbar (Deus é grande)..... que não encerram em si fanatismo nenhum....
Amina é cantora e investigadora marroquina ....... tem aquela voz quente e doce, característica das mulheres árabes.
A certa altura Carlos Vaz Marques comenta que actualmente há um choque de civilizações em curso no mundo.
Amina Alaoui é peremptória:
Eu não penso que há um choque de civilizações. É uma grande farsa. A realidade do islão não tem nada que ver com a realidade que vivemos hoje. Que são interesses económicos disfarçados na religião...
Carlos Vaz Marques – Interesses económicos, mesmo no mundo árabe...?
Amina Alaoui –
São dois bandos que querem apoderar-se do mundo e neste caso já conhecemos os dois bandos. E quem vai ser o mais forte....
Carlos Vaz Marques – Não vê, portanto, formas muito distintas de olhar o mundo, por um lado a ocidente, por outro a oriente. Não é isso que está em causa...
Amina Alaoui - O que está em causa é o petróleo, que não é ... a religião é uma desculpa. Sabem que agora que caíram todas as ideologias, o comunismo, o socialismo, o que fica? A religião. Então a religião tinha o poder de convocatória muito maior do que a ideologia política, então jogam com isso.
E que dizer da
Gihad?.... Tal como explicado por Amina Alaoui o termo
Gihad entrou nas nossas vidas conhecida como “guerra santa”, mas que na sua essência é um esforço no sentido da bondade, é uma reforma. A
Gihad que necessita de mais esforço é a
Gihad interior.
Não defendo que os árabes são todos fundamentalistas. Longe disso. Já conheço alguns países árabes, admiro a cultura, admiro as pessoas. São calorosas. Sempre andei à vontade, em qualquer dos países que visitei e, naturalmente que tinha o estigma “TURISTA” na testa – que é, também, o lugar que lhe pertence!
Mas, fico sempre comovida quando oiço falar desta cultura.... destes povos.... pela simpatia que sinto por eles, e porque no fundo, os sinto nas minhas entranhas, pelos tantos anos que por cá andaram mas, e acima de tudo, porque são tão injustiçados pela maioria de nós
civilizados ocidentais que não conseguimos reconhecer e aceitar as diferenças, tentando sempre uniformizar tudo ao formato do hambúrguer e da coca-cola.....
E ontem, em particular, apeteceu-me muito mais....
E quando pus a chave à porta corri, direita à aparelhagem, e deixei os místicos sons árabes circularem por ali, envolvendo-me com as lembranças e aliviando a frustração de nada poder fazer para provar ao resto do mundo que os fundamentalistas islâmicos só estão na televisão.... e como em tudo.....são esses privilegiados que criam as imagens que temos das coisas .......
E há outros fundamentalismos...... os ideológicos.... que ninguém combate.... por serem os dominantes..... embora proferidos por invertebrados.....
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Pessoal.... e Transmissível
De Segunda a Sexta-feira, às 19h
TSF – 89.5 FM