É, então, este episódio sobre o Serafim, e aquela vez em que foi de charola para o hospital.
Importa explicar que Serafim é um valente cromo, daqueles que nunca saem nas carteirinhas e têm que ser pedidos ao editor! Serafim e o seu irmão, Álvaro, têm, já há muitos anos, um acordo tácito com as melhores pastelarias do bairro – os bolinhos do fim do dia são colocados numa caixa de cartão junto ao caixote do lixo – para dar às galinhas. Isto, claro, é o que eles dizem. Na verdade, ao abrir as caixas, há sempre uns quantos bolos que chamam por eles como se não houvesse amanhã e eles não se fazem rogados e comem-nos. Almerinda e a cunhada, Alzira, não conseguem fazer mais do que dizer
os cab*** dos velhos e deixá-los saborear aqueles petiscos.
Serafim, para além destas iguarias, toma, também, tudo quanto são comprimidos que existem lá em casa – até os que neutralizam o ph do aquário. Não que saiba para que servem, mas porque acha que resolvem esta ou aquela maleita de que padeça, afinal a idade já vai avançada e orgulha-se de dizer que nunca foi ao médico. Orgulha-se, não, orgulhava-se, porque há uns tempos atrás teve mesmo um
avac - digo
mesmo porque neste
episódio ele defendeu-se com essa
doença, mentido sem dente nehum, porque os foi arrancando com um alicate ao longo dos anos, perante o juiz, embora ninguém tenha sabido identificar aquele termo médico.
Bom, o Serafim teve, então, um AVC, o tal
avac, mas aguentou-se, como macho que se preze, com a forte dor no peito. Só no dia em que se descaiu com um dos filhos é que conseguiram convencê-lo a ir ao médico. Sintomas avaliados e viagem, de urgência, para o Santa Maria
que nem sei como o senhor ainda está vivo, exclama o médico.
Chegado lá o panorama não estava famoso: diabetes no máximo, em valores de coma – o que até nem é de estranhar, se tivermos em conta que Serafim há muito que substituiu as batatas cozidas, arroz ou massa por bolos, apenas bolos, com carne ou peixe. Se acrescentarmos a isto um copito de leite atestado de chocolate logo pela manhã, compreendemos que é fácil chegar a este estado. O diagnóstico médico é claro: AVC provocado por excesso de açucar no sangue.
Serafim e Almerinda saem do hospital com uma dieta rigorosa e obrigatoriedade de se apresentarem ao médico dali a alguns dias para repetição das análises.
A dieta foi pouco cumprida, que Almerinda tem mais o que fazer e os medicamentos..... O tempo foi passando e Serafim foi deixando de comer, porque nada do que Almerinda cozinhava lhe enchia o olho e a esposa, expedita, também não estava para se chatear muito. No final do Verão já Serafim estava muito amarelo e inchado.
Nova consulta no médico, para avaliar os resultados das análises. O pânico, outra vez e o mesmo veredicto:
de urgência para o Santa Maria. Rins parados e hemorragia interna, vinda não se sabe muito bem de onde.
Agora vai ter que fazer miodiálise explica Almerinda aos filhos. A hemorragia interna, veio a saber-se mais tarde, que resultava da toma excessiva de aspirinas, que é, como se sabe, um potente anti-coagulante.
A acrescentar a este episódio resta apenas dizer que os 9 contitos que Serafim tinha debaixo da almofada, no quarto do hospital, desapareceram. Fez queixa aos filhos. Mas, a avaliar por todo o percurso que aqui ficou contado, os filhos não lhe deram grande importância. Porque é que será?
Vou deixar o doente no hospital, a fazer a sua
miodiálise. Pode ser que dê azo a mais algum episódio.....