Há uns dias que sentia o chão tremer.

Ouvia as notícias com atenção, procurava nos jornais e nada. Não havia registo de sismos, tremores de terra leves ou o que quer que seja.

Sentia-se como no livro do Saramago, numa península à deriva. Mas, nem disso havia notícia. Que parvoíce, pensava. Vai lá a Península separar-se da Europa….

Afastou a ideia. Nos dias seguintes tentou não pensar no assunto e sempre que o chão
vibrava batia com os pés, um de cada vez, como que forçando-se a acreditar que a deslocação que sentia era provocada pelo seu próprio movimento.

Um dia sentiu-se a entrar numa outra história, a de D. Quixote. Para todos os lados onde olhava sentia-se observada por hélices que pareciam ter vida. Ainda ouviu o relinchar de um cavalo, mas achou que isso já seria perto demais da loucura.

Sentou-se no banco do carro, deixou a porta aberta, fechou os olhos e respirou fundo. Aquilo ia passar!, esperava.

Voltou a abrir os olhos, agora mais calma, e percebeu que estava rodeada por incontáveis e modernos moinhos de vento.



Esboçou um sorriso e pensou: afinal, a Península não vai navegar à deriva no oceano. A Península vai é voar…..

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Pronto, ok, a Península toda, se calhar, estou a exagerar, mas que o meu Concelho um destes dias levanta voo, pendurado nestas coisas, ai isso levanta…… Fazem lembrar guardas opressores, circundando os povoados.

Não dava mesmo para juntarem estas coisas todas num terrenozeco e pronto? Parecem cogumelos gigantes, que explodem do chão com a humidade.

Do mal o menos - vivemos de mal menor em mal menor…. Que precaridade…! Ficamos, portanto, com o mal menor. Trocamos a poluição da produção de energia eléctrica pela poluição visual que estes cogumelos opressores nos impõem, por esses montes e vales….. é tudo uma questão de prisma! Todos os males sejam este…..