Soube-me bem, este domingo!

Gostei de ter a família reunida, como acontecia antes. Faltavam algumas pessoas, umas levadas pela vida para longe, ou levadas pelas circunstâncias para outras vidas, outras apenas levadas, há anos, sem vida. Ainda sinto o cheiro daquela sala de aulas, quando soube que tinhas partido. Ainda me lembro da intensidade da luz. E, mal a D. Lídia entrou, percebi logo o que tinha acontecido. Tinha 6 anos. Nunca me cheguei a despedir-me de ti. Sempre com a razão à frente dos sentimentos, consegui dizer que assim era melhor, que escusavas de sofrer mais, que já estavas assim há muito tempo. Depois levaram-te para longe. E eu não fui. Nunca te deixei uma flor. E, aprendi a viver com isso, da forma que melhor consegui. Mas, o sorriso da avó nunca mais foi o mesmo.

Este domingo, senti como se tivesse voltado atrás no tempo e nada tivesse mudado.

Depois, olho para a minha avó e vejo-a cada vez mais perto de ti, velhinha e sofrida, que a vida não lhe foi fácil. Mas, ainda a consigo fazer rir, com vontade. Sabe-me tão bem, oferecer-te, assim, com nada em especial, essa felicidade. Quase me compensa as lágrimas que te vi correr, cara abaixo, sem nada poder fazer. E, nessa altura, nem os meus beijos ajudavam e eu sabia-o.

Tenho muitas imagens, coladas na memória. Imagens dela, de vocês os dois, de nós, todos juntos na vossa casa. Dos tempos em que a vida foi muito difícil mas, mesmo assim, muito alegre.

Daqui para a frente vou repetir mais vezes esses e estes dias. Porque o tempo passa e tem que ser bem aproveitado. Quero dar-vos flores, a todos, antes que não as possam sentir.

E, apesar de estas palavras poderem parecer tristes, não o são. Porque soube-me bem, este domingo.