Este navegar no nada

A lembrança dos dias que passaram,
O calor escaldante
O barulho
Os cheiros
As cores
A correria para chegar às memórias do passado
E contemplá-las como restos vivos no presente
O princípio do presente
Imaginar agora o que teria sido...
Parar sob o sol
Esquecer tudo à volta e seguir em direcção ao passado
Sentir as pessoas a caminhar nas suas vidas
Ver-lhes as roupas
Seguir-lhes o rasto.....
Os homens nas construções
As pedras pesadas
Os engenheiros com as plantas
As mulheres com os seus adornos
Ali, crianças a brincar na sombra
Ao fundo um barco no rio
O som das bugigangas das mulheres
O ritmo compassado dos homens a remar
O sol, o mesmo de hoje, que também naquela altura marcava presença
Uma ordem perfeita
Desfeita pelo Homem
Quase apagada pelo tempo
Mas teimosa na existência

E aqui, perante o silêncio ensurdecedor da História
O barulho
Os cheiros
As cores
São agora diferentes

Não saindo das lembranças estive lá
Abro a porta da memória para ela se juntar àquilo que não vi
Descansei em sedas garridas
Caminhei pelos corredores de palácios
Confraternizei com personalidades de destaque

Libertei a intemporaliadade da imaginação .........

Fecho a mala
Guardo os últimos cheiros
Fixo as últimas imagens
Acrescento ao meu património esta viagem em duas dimensões
E quando for preciso abro novamente a porta
E espero que o vento dos dias agite as folhas da memória.
Sai cá para fora!
Alimenta este dia com os sabores guardados.
Sinto os cheiros, desfolho as imagens.
E a seguir fecho a mala!, naquele quarto de hotel no deserto

Julho 2003

......
Depois de umas férias no Egipto, agora que me preparo para visitar um país lá ao lado!