Couves, alfaces e rabanetes!
O português é exímio ocupador de terrenos abandonados para ali fazer uma pequena horta. Vê o terreno, ronda durante uns dias a ver se aparece o dono e depois, pimba, espeta-lhe uma bandeirola simbólica, assim tipo os americanos na lua, não diz a famosa frase, porque é em estrangeiro, mas diz qualquer coisa semelhante, assim como que "Este Natal é que vai ser, couves boas para o bacalhau!"
Numa primeira fase começa por cavar o terreno, em parcelas, onde dispõe as couves portuguesas, os nabos, salsa, coentros, alfaces e o que mais houver. Depois, com receio de invasão de propriedade, compra uma rede manhosa e aproveita os paus espalhados na sua recém adquirida pupriedade para servirem de tutores - maioritariamente restos de obras da casa de alguém, abandonados ali selvaticamente.
Salvaguardados os bens, é tempo de eliminar todo o lixo existente. Junta-se tudo a um canto: capim seco, sacos plásticos trazidos pelo vento, os tais restos de obras e o que mais houver e chega-se-lhe fogo, que é a melhor forma de eliminar o lixo. Uma espécie de co-incineração doméstica.
O Natal ainda vem longe e é preciso garantir que as couves não são, entretanto, vítimas do apetite voraz de predadores, por isso, toca de besuntá-las com uns produtos químicos que não só as tornam assassinas em série para os microorganismos existentes no solo e alguns gastrópodes, como, por outro lado, as fazem crescer a olhos visto, deixando todos os vegetais existentes no Entroncamento com uma enorme inveja!
Enquanto vê o crescimento exponencial dos seus legumes vai tentando convencer esposa, familiares e amigos a visitar a pupriedade, com um discurso mais ou menos assim: "Aquilo é que são legumes saudáveis, regados com a água do poço do vizinho, que vem lá de cima do monte, passa por baixo da lixeira e chega ali fresquinha que até sabe melhor que o tinto. Não levam químicos nenhuns, só um pozinho para afastar os caracóis, é à confiança. Têm que lá vir, fazemos lá uma patuscada....".
Acabam por combinar para um qualquer fim de semana e o recém agricultor apressa-se a arranjar umas chapas de zinco para fazer uma pequena casita, onde guardará as ferramentas e colocará umas cadeiras velhas, gentilmente cedidas pelo caixote do lixo mais próximo para, orgulhosamente receber as visitas.
Conhecido o caminho, começam as romarias ao domingo, que não há melhor que a vida no campo. A pequena casita vai crescendo, porque, às vezes, ao sábado também apetece ouvir os legumes a crescer e assim sempre se poupa uma viagem, põe-se um divã e dormem os dois, marido e mulher, na casita modesta. Não tarda estão a dar nome à pupriedade, as chapas de zinco vão sendo substituídas por um tijolo ou outro e a reforma é passada ali, plantando e dividindo com os amigos.
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